O escritor, poeta, ator, diretor e produtor cultural fala sobre os bastidores da escrita do seu novo livro de contos.
O premiado escritor cearense Mailson Furtado chega à Moinhos com o livro Litígio, contendo 16 narrativas curtas que transitam com linearidade pelo sertão, unindo a realidade e a fantasia existentes na vida e na história de um povo que reclama para si uma vida a seguir.
Em um bate-papo com a casa dos bons ventos, Furtado contou um pouco sobre este novo trabalho, revelou seu processo de criação dos contos e o que espera de seus futuros leitores.
Litígio apresenta uma profunda conexão com a oralidade e o imaginário popular do sertão. Como foi o processo de construção desses contos, houve, para você, qualquer desafio em transformar essas vivências do povo do sertão em literatura?
Foi bem desafiador e bem diferente de tudo o que já havia feito, até por que, embora alicerçado em versos, vejo este trabalho como prosa. Chamo os textos de contos. Encontrei alguns desafios iniciais nessa travessia.
O primeiro, cristalizar narrativas presentes no meu vivenciar sertanejo desde o sempre, e como tão ditas, acabavam por ficar suspensas em um não-ver. Trazê-las à tona foi uma experiência e tanto.
Um outro desafio, e talvez o maior deles, foi o encontrar de uma voz, com um ritmo, um experenciar linguístico transpassado por diversas singularidades, seja dos lugares ou personagens, através da oralidade, geografias e encantarias populares que conseguissem marcar tais vivências para além da história.
Algo novo pra mim, bem distante da literatura que já realizo, e que entrou como um desafio imenso também, foi o exercício de arquitetar as narrativas. Antes de qualquer escrita, precisava fazer todo o mapa narrativo da história previamente, para só assim tirá-la do campo das ideias e transformá-la em palavras.
Você já foi reconhecido nacionalmente com prêmios importantes, como o Jabuti, mas continua enraizado em Varjota. De que forma esse vínculo com sua cidade natal influencia a sua escrita e a sua visão sobre a literatura?
Varjota é fundamental pra minha escrita e para a minha experiência no mundo. É uma cidade sertaneja, talvez como qualquer outra, mas por sua formação histórica particular e recente, sinto-a deslocada no mundo.
É um lugar de muitas incompletudes, que possibilitam muitas brechas para experiências artísticas. Por ser um lugar “inventado”, a ancestralidade inerente do sertão, está não estando, da mesma forma que as modernidades desses dias, e assim se completam.
Neste ser e não ser de tantas coisas, esse litígio, que minha experiência literária é marcada, mapeando esses não-lugares e/ou não-dizeres.
O livro aborda temas universais, como a morte e o tempo, mas a partir de uma perspectiva regional muito específica. Como você vê a relação entre o local e o universal na sua obra?
Confesso que acho pouco relevante essa dualidade local/universal. Falar de onde estou e de onde posso é minha única possibilidade. Se digo do mundo no geral, nunca qualquer autor poderá afirmar isso de sua própria obra.
Mas sinto que tal caracterização, seja uma ou outra, leva caminhos negativos. Dizer que faço literatura regional seria, em parte, excluir do mundo, esse lugar que vivo. Da mesma forma que dizer que faço uma literatura universal talvez soe prepotente de minha parte.
Assim, diante dessa preocupação pouco construtiva, me furto a dizer que faço literatura e pra mim isso basta.
A sua escrita tem sido um espaço para explorar identidades e memórias. O que você espera que os leitores encontrem em Litígio, e que tipo de diálogo espera estabelecer com eles?
Neste livro, trago narrativas e personagens que se espalham por todos os sertões, e de forma mais explícita em relação a algumas obras anteriores, apresento uma territorialidade mais específica que se desenha e se traduz nas vivências dessas figuras, em seus comportamentos e seus dizeres. Encontrar essa territorialidade para além dos estereótipos e clichês, que tanto marcam os sertões, é uma dessas expectativas de encontro.
O passeio neste litígio de experiências, que se confirmam muito mais em dúvidas, que certezas – prosa/verso, real/fantasia, morte/vida, urbano/rural, ancestral/moderno, cético/encanto, é outra dessas buscas.
Além de poeta, você é dramaturgo e produtor cultural. Como essas diferentes formas de expressão artística dialogam entre si e enriquecem o seu processo criativo?
A dramaturgia me leva a experiências de escrita para construção de imagens mais corporais e em ação, e por conseguinte, a um exercício maior do discurso e da oralidade, fatos não tão presentes em outros gêneros textuais. Para a escrita de LITÍGIO isso foi fundamental.
Como produtor cultural, além de atuar em campo, o que rende o grande exercício de tomada de decisões e resolução rápida de problemas, importante para a escrita. Grande parte de minha vivência na área é escrevendo projetos, o que me leva a trabalhar com uma linguagem mais objetiva e ao mesmo tempo mais burocrática, bem distante do que busco e faço na escrita de ficção.
E assim tudo se entrelaça de forma muito potente.
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