Para aplaudir de pé neste fim de ano
24 de dezembro de 2022Livros arrebatadores para você encerrar 2022 com chave de ouro.
Tem gente que gosta de contabilizar as leituras feitas durante todo o ano. Tem quem goste de fazer algo mais elaborado, com infográficos para saber quantos livros leu de determinado país, gênero literário ou de quem escreveu o livro. Ainda existem aqueles e aquelas que contam a quantidade de páginas lidas. No final das contas, o que vale é se as leituras foram boas, bem aproveitadas, fizeram alguma diferença na nossa vida, seja pelo soco no estômago, seja pelo quentinho no coração.
Eis que vem o fim do ano queremos ler AQUELE livro, que feche tudo com chave do ouro, que ao virar a última página nos faça aplaudir a obra de pé, com um ar de “caramba, que livro é esse?!”. Tão boa essa sensação, não?
Livros existem aos montes e talvez o arrebatamento venha de um livro que você menos espera. Mas como saber que livro é esse? Há algumas alternativas: você pode escolher às cegas para ver se a obra te surpreende; você pode se atrair pela capa; você ainda pode levar em conta indicações de pessoas em quem você confia quanto a gosto literária. É aí que a gente entra!
Você confia na Moinhos? Se a resposta é sim, vamos deixar aqui algumas dicas de livros que podem te surpreender, extasiar e fazer com que aplauda de pé depois de ter lido a última frase. Isso não falamos apenas por nós! São livro que, quem leu, não mede palavras para exaltar (sem exagero nenhum). E tem para todos os gostos e estilos, confere aqui a lista:
Todo esse amor que inventamos para nós, de Raimundo Neto
Neste volume de contos as vozes são muitas e uma só. Construído numa linguagem poética, é na vida prosaica que os personagens circulam como diante de nossos olhos. Encarnados, pulsantes, naturezas que não cabem nos nomes que recebem. No universo onde a homossexualidade é castrada e violentada, as narrativas encaminham nossa leitura para o interior de necessidades e desejos que raramente são tão bem iluminados. Conduzem o leitor ao interior dos personagens para ouvir “aquele som de caverna esvaziada, inexplorada, e fogueira apagada há milênios”. Os personagens procuram costurar a própria identidade. Costuram o que foi rasgado, rompido, interrompido. Querem ser chamados pelo nome. Mas o nome não nomeia. O trauma prende seus protagonistas ao presente, “o tempo é questão de ferida”, tornando-se insuportável. Neste potente livro o que é limite torna-se limiar, a ferida está sempre prestes a aumentar. A obra investiga a casa como um corpo, o corpo da mãe e o corpo do mundo, o quanto esse corpo é vivo e abrigo, e o quanto ele é a câmara que precede o desfazimento. “Como é que escapa de uma mulher todo esse amor que inventamos para nós na casa?”.
Andréa Del Fuego
Kramp, de María José Ferrada
(tradução de Silvia Massimini Felix)
Unidos por um catálogo de produtos de serralheria da marca Kramp e viagens num Renault velho por estradas, povoados e cidades, uma filha cresce ao lado de seu pai, caixeiro-viajante, a aprender ensinamentos sobre o mundo e vida. Da infância à adolescência, M narra seus aprendizados e o correr dos anos, até o evento que marca uma ruptura na família, acionando o dispositivo dos sintomas parentais e outras rupturas e mais questionamentos sobre o universo e as peças que não se encaixam, as dores desparafusadas que se acumulam, e o revelar das engrenagens discretas do afeto rangendo no crescer da sua maturidade.
Livro vencedor do Prêmio de Melhor Romance do Círculo de Críticos de Arte, do Prêmio de Melhores Obras do Ministério da Cultura (categoria romance) e do Prêmio Municipal de Literatura em Santiago.
As aventuras da China Iron, de Gabriela Cabezón Cámara
(tradução de Silvia Massimini Felix)
“Foi o brilho”, assim começa As aventuras da China Iron. A história conta o renascer de Iron, mulher mestiça que escapa do marido acompanhada da cadela Estreya. Elas encontram Liz, uma inglesa com quem cruzarão a pampa argentina rumo ao delta do rio Paraná. Tudo nesta narrativa é intensificado sob a luz pampeana: cores, saberes-sabores, o amor lésbio, a linguagem prismática e a comunicação interespécies.
A paródia do Martín Fierro, livro fundador da literatura argentina, alcança aqui seu princípio modernizador: uma relação dialética faz do modelo um antimodelo ao criar sentidos textuais novos e muito além da imitação.
Em 2020 esteve entre os finalistas do International Booker Prize.
Davis Diniz
Todo naufrágio é também um lugar de chegada, de Marco Severo
Não existe transformação possível se a travessia for serena. É o que parece nos dizer esta obra de Marco Severo que você pode estar prestes a ler. Em cada conto, em cada personagem, situações colocam o ser humano confrontado com o mundo à sua volta e consigo mesmo. Reunidas nestas vinte histórias estão o medo, a loucura, a infância amarga, a velhice decrépita, a desesperança, a morte. Mas não só, porque falar dessas coisas é também tratar do seu oposto.
É assim que o leitor entrará em contato com a paz advinda do aprendizado amoroso, as descobertas dos muitos eus que nos habitam, o recomeço após perdas debilitantes, a esperança que não se perde nunca. São histórias de homens e mulheres soltos no inescapável labirinto da vida, por onde ninguém passa incólume. Para além do devir inerente ao ser humano em sua imensa capacidade de mutação, esta obra perfaz no leitor o trajeto de volta, o olhar generoso para com as vivências possíveis, a delicadeza que existe em cada gesto.
Sara Luna, de Tom Maver
(tradução de Fernando Miranda)
Sara Luna, de Tom Maver, é muito mais do que um livro de poesia. É uma história. É uma pessoa, uma mulher, uma senhora de idade, uma avó. É também um caminho que o sujeito lírico busca encontrar porque precisa saber de suas raízes, por quais veredas sua ancestralidade andou e de onde vieram aqueles que lhes puseram no mundo. Em tudo, há um ponto de partida, sabemos que nem sempre de chegada, mas aqui, em Sara Luna, ou em Sara Luna, há um fim, ou um fim possível. A voz que nos conta as histórias, por meio dos poemas que Tom Maver escreveu, nos faz ficar de cócoras, ao lado do fogo sob o céu estrelado, ouvindo histórias de alguém antigo, que fala uma língua que já não se escuta, já não se conhece.
O poeta de Pondichéry, de Adília Lopes
Diderot (ou quem fala por ele em Jacques le Fataliste) recebe um jovem que escreve versos. Acha os versos maus e diz ao jovem que ele há-de fazer sempre maus versos. Diderot preocupa-se com a fortuna do mau poeta. Pergunta-lhe se tem pais e o que fazem. Os pais são joalheiros. Aconselha-o a partir para Pondichéry e a enriquecer lá. E a que sobretudo não publique os versos. Doze anos mais tarde o poeta volta a encontrar-se com Diderot. Enriqueceu em Pondichéry (juntou 100 000 francos) e continua a escrever maus versos.
Porque é que o mau poeta deve ir para Pondichéry e não para outro lugar? Porque é que os seus pais são joalheiros? Porque é que juntou 100 000 francos? E porque é que passou doze anos em Pondichéry? Não sei explicar. O que me atrai é precisamente isto: Pondichéry, pais joalheiros, 100 000 francos, doze anos.
Estes são apenas alguns dos livros do nosso catálogo que têm o poder de impactar de diversas formas e, quem sabe, vão fazer você finalizar o ano com um novo favorito da vida. Ah, todos eles estão disponíveis em e-book, você pode adquirir na nossa livraria online e começar a ler na hora. O que acha?