Coração e vísceras entremeados em poemas de Michel de Oliveira
22 de fevereiro de 2021Autor de O sagrado coração do homem lança seu primeiro livro de poesia
Quando se fala em poesia, somos remetidos a textos escritos em versos que, com certa leveza, despertam em nós sentimentos variados. Embora não seja uma regra – e esteja bem longe disso –, quando o assunto é poesia o primeiro sentimento que vem à mente é o amor, o qual dizemos ser expresso com palavras quase sempre doces vindas do coração.
Porém, tanto a poesia não fala só de amor quanto o amor não é regido unicamente pelo coração. O sentimento é experimentado pelo corpo todo e, por vezes, são as entranhas que reivindicam a forma como o expressar e trazer à tona pensamentos e reações físicas que nem sempre gostamos de colocar para fora.
É nisso que aposta o escritor sergipano Michel de Oliveira ao se aventurar na poesia em seu novo livro, obra essa que fala de amor com intensidade que vai além de um único órgão do corpo.
Das narrativas curtas aos versos
Michel de Oliveira, jornalista, fotógrafo e escritor nascido em Tobias Barreto (Sergipe), mora em Aracaju. Além de participação em antologias e uma publicação sobre fotografias, é conhecido por seus livros de contos, que carregam um teor por vezes cáustico, por vezes satírico, mas que têm por objetivo atingir o âmago do leitor.
Em seu trabalho de estreia Cólicas, câimbras e outras dores (Oito e Meio, 2017), livro pré-selecionado no Prêmio Sesc de Literatura 2016 e finalista da 1ª Maratona Literária da Editora Oito e Meio/Carreira Literária, Michel narra sobre dores do cotidiano da forma que são sentidas, com desconforto angustiante que mesmo quem não as vivencia pode sentir. Já em O sagrado coração do homem, coletânea de contos finalista do Prêmio Açorianos, publicada pela Moinhos (2018), o autor dá um tom teológico repleto de sarcasmo e ironia ao falar sobre o que há por trás da masculinidade e sua ânsia por superioridade, o que, de certo modo, pode contestar a ideia de sexo frágil.
Graduado em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal de Sergipe, mestre em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina e doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Michel agora ingressa no cenário da poesia nacional. Apesar da transição das narrativas curtas para os versos, o estilo provocativo e a crueza, constantes na essência de sua escrita, permanecem como marcas registradas que fazem de Michel de Oliveira um dos nomes proeminentes da literatura brasileira contemporânea.
Coisas de amor, que são tantas e tontas
Depois da prosa e da fotografia, Michel de Oliveira apresenta um novo trabalho em um novo estilo: o livro de poesias o amor são tontas coisas.
O amor como centro da obra oscila entre o clichê esperado e a surpresa do sentimento experimentado e nem sempre revelado, desperto em detalhes do cotidiano e vivenciado com intensidade por cada parte do corpo, inclusive aquelas em que menos se espera. Mistura que alterna da leveza ao peso, da melancolia ao êxtase, da delicadeza ao explícito que provoca.
A potência característica da escrita de Michel está impressa em cada verso, levando o sentimento aos sentidos e elevando as sensações a um nível quase visceral. Em sua escrita, o amor se torna palpável e é agarrado nos pequenos detalhes, por mais bobos que sejam, e são tantos.
Permitir-se enxergar o amor em coisas corriqueiras e o descrever no plano físico, associar e distribuir os impulsos aos respectivos órgãos do corpo para que estes manifestem a carga emocional contida, desfazer-se do pudor ao discorrer sobre a paixão com palavras simples que, de tão ordinárias, maximizam o efeito suave esperado dos poemas. São propostas contundentes dos escritos de Michel que tornam o mergulho, no livro e nas sensações, inevitável.
Dividido em duas partes, que podem ser descritas como estágios de reações emocionais e corporais ao sentimento tão almejado por boa parte da humanidade, o livro expõe o furor decorrente do se jogar de cabeça, despido e aberto, ao que o corpo manda depois de ouvir os sussurros do coração. E então resta apenas dar voz às demais partes da anatomia humana atingidas pelo ímpeto do sentir e arcar com as consequências.
Com orelha de Juliana Blasina, o amor são tontas coisas é um dos lançamentos do mês de fevereiro de 2021 da Editora Moinhos, mostrando a faceta poética de um escritor brasileiro que desnuda o profundo (e, muitas vezes, o indizível) do ser humano em palavras certeiras.