Sobre “Todo esse amor que inventamos para nós”…
13 de agosto de 2021Um livro de 150 páginas divididas em 31 contos. O suficiente para criar um catálogo de infernos possíveis à realidade do homem gay no Brasil contemporâneo. O suficiente para desvelar, dentro de cada um desses infernos, a possibilidade da felicidade pela fagulha do desejo que nasce e que parece durar alguns segundos – e toda uma eternidade. ⠀
Dolorosos, os contos narram o cotidiano cruel daqueles que antes de perceberem seus afetos e de entenderem seus corpos já são condenados pela sociedade. Com violências que ocorrem tanto dentro de casa como na rua, não há aqui espaço seguro nem garantia de que uma hora algo vai melhorar. O leitor vive aquele instante de descoberta que acarreta num interminável terror como se estivesse dentro do trauma que qualquer um faria questão de esquecer. ⠀
E o que há de mais especial no trabalho de Raimundo Neto é que suas narrativas, que poderiam tratar dum corriqueiro infernal, ganha lugar de reflexão por meio de uma linguagem trabalhada. E aqui há um elemento realmente interessante: não é a pessoa que se dissolve em questionamentos internos, como vemos em Caio Fernando Abreu, por exemplo, mas sim a própria palavra. ⠀
Assim, cria-se um véu em que somos obrigados a enxergar em frestas ou em meio a olhares sujos e opacos o que está acontecendo. Isso faz com que nós, leitores, tenhamos que completar a cena, interpretar a situação e, junto a isso, levantar nossos preconceitos. É uma experiência bastante sensorial, digna da boa produção literária brasileira.
por Paulo Lannes
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