Michel de Oliveira

É natural de Tobias Barreto, Sergipe. Escritor, fotógrafo, artista visual, jornalista e doutor em Comunicação e Informação pela UFRGS. Autor de Fatal Error (Moinhos, 2021), O amor são tontas coisas (Moinhos, 2021), O sagrado coração do homem (Moinhos, 2018), Cólicas, câimbras e outras dores (Oito e Meio, 2017) e do livro de não ficção Saudades eternas: fotografia entre a morte e a sobrevida (Eduel, 2018); participou das antologias Como tudo começou: a história e 35 histórias dos 35 anos da Oficina de Criação Literária da PUCRS (ediPUCRS, 2020) e Qualquer ontem (Bestiário, 2019).

  • Meus dedos sentem falta do seu cheiro

    L. e Miguel estão apaixonados, ou seus corpos estão em fúria, como em João Gilberto Noll, e ainda procuram nomes para o que sentem. Suas masculinidades criam afetos que percorrem os corpos por vias congestionadas de sexo, silêncios e deslocamentos, entre Brasil (São Paulo, Ceará, Paraná) e Espanha (Barcelona) – lugares Presente e também lembranças e Passado. L. conta recordações dizendo-se escrito em um não-diário, às vezes piegas, outras vezes assumindo um tipo de oposição ao exagero, mantendo sinestesias musicadas, compondo ritmos do desejo: a referência a Wong Kar-Wai está lá, inclusive. Michel de Oliveira escreve seu primeiro romance em tons de “assombro sentimental” sobre a relação entre dois homens perdidos em palavras que escapam por dentro, apegos a jorrar das faltas, tramas de reelaborações de infâncias tornadas precárias pelo preconceito (“duas crianças perdidas juntas têm menos medo”). L. e Miguel encontraram no amor e no desejo um abrigo e um precipício, irremediavelmente, e tudo isso permeado por sentimentos coloridamente eviscerados, do sexo casual iniciado em flertes anônimos na internet, invenções do amor e seus novos nomes. Michel escreve uma composição de recordações e conflitos, na qual os personagens parecem buscar uma investigação de suas subjetividades e corporalidades. Com entrelinhas melancólicas inflamadas de homem-erotismos e lacunas, os personagens no romance de estreia de Michel de Oliveira dizem sobre desejo, segredo, culpa, e algum tipo de amor que termina sempre como se estivesse começando.

    Raimundo Neto

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  • Fatal Error

    A força da boa literatura reside no fato de que ela nos desnuda, evidenciando e desnovelando as diversas camadas de nossos dilemas e questões, em qualquer tempo. Fatal error, para além de colocar sob os holofotes a essência do comportamento humano, revelando-nos, o faz de maneira que permite ao leitor vislumbrar o agora e os tempos que virão, dando a possibilidade de compreender um mundo em que – aparentemente – ainda não se vive, mas que já está em curso, com a tecnologia avançando sobre nossas vidas de maneira desmesurada, incompreensível e avassaladora.

    Os personagens de Michel de Oliveira são homens e mulheres comuns, buscando resolver (ou pelo menos compreender) seus dilemas e encontrar soluções para problemas cotidianos que, transformados em obsessões pessoais, se tornam o inferno particular de cada um – isso não soa familiar? O que já não é pouco alia-se a um movimento constante em que smartphones, computadores, tecnologias de reprodução, mapeamento genético e todo um universo de pesquisa no Google, wi-fi e arrobas tornam-se protagonistas nas narrativas de vidas humanas, evidenciando que chegamos a um ponto de não retorno: estamos intrinsecamente ligados às tecnologias, e nenhum de nós conseguirá escapar do algoritmo que parece saber de nós mais do que nós mesmos.

    No entanto, Fatal error não traz em suas páginas o teor por vezes lúgubre de Black Mirror. A obra de Michel de Oliveira consegue evocar, em cada um de seus contos, a urgência dos nossos tempos e a dimensão do que nos espera, mas sem perder o humor. E isso, sabemos, ainda é mais forte do que qualquer algoritmo.

    Marco Severo

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  • O amor são tontas coisas

    Michel de Oliveira estreia na Poesia com a mesma força de dizer e mostrar com que tem estabelecido sua assinatura na narrativa de ficção e na fotografia brasileira. Em O amor são tontas coisas, o poema é também um objeto visual com o qual o poeta compõe o espaço e desdobra a palavra, numa estética concreta contemporânea, com humor e profundidade. Seus temas atravessam o corpo, o desejo e tudo aquilo que dele transborda, afinal o amor é líquido e pede o gole, o porre, o mergulho sensorial completo, como nos versos do poema “Bauman não sabe do amor”:

     

    A ebulição do sangue
    faz a carne sólida
    eu deságuo
    você me bebe

    Amor só cresce
    em solução aquosa
    (…)

     

    Convém que se leia com sede.

     

    Juliana Blasina

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  • O sagrado coração do homem

    O dicionário define literatura como substantivo feminino. Na prática, o retrato é outro: literatura é artifício masculino, forjado para louvor dos homens. E não se enganem, mesmo o fracasso é representado de forma grandiosa nas páginas dos livros.

    Desnudando a imagem intocável do macho, Michel de Oliveira investiga a masculinidade que se diz tão potente, mas que esconde tantos medos e frustrações. Os contos, marcados pelo sarcasmo e pela ironia, são permeados de referências diretas e indiretas às estruturas formatadas pelos homens para sustentar a sociedade que os beneficia, a exemplo da religião, da filosofia, da ciência, da história e da própria literatura.

    Em vez de um compilado de textos avulsos – como é comum em livros de contos –, O sagrado coração do homem apresenta um fio narrativo que dá a perceber a potência por trás de cada história, construindo uma arquitetura narrativa que não é simples de ser realizada.

    O livro propõe uma mirada pelo avesso, expõe as costuras que não deram certo, os pedaços esgarçados, as cores desbotadas, busca as fissuras da masculinidade, que não se deseja quebrar por nada. Como resultado, temos um catálogo de cenas que permite visualizar as nuances do mundo dos homens, sem o heroísmo e vanglória que marcam esse tipo de abordagem.

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    o sagrado coração do homem