Em Restos de Azul, uma professora de língua portuguesa é afastada de suas atividades laborais em decorrência de um grave episódio de esgotamento físico e mental.
Esse é o ponto de partida deste impressionante romance que apresenta, de maneira melancólica e desconcertante, uma anatomia da depressão, costurada desde fractais da solidão humana cujo espatifamento é apenas interrompido a partir da chegada repentina de um gato faminto que invade a vida e o apartamento ocos da mulher, forçando-a à lembrança de que ela também precisa sobreviver.
Michel de Oliveira narra a história dessa professora que está à beira do afogamento psicológico, e que acaba por encontrar alento na escrita de suas dores. Com a escrita, quase diária, deságua os assombros de ser viva e só, e acha forças para agarrar-se às margens que detêm o ímpeto das águas, num movimento tão característico de todos nós, seres humanos: o de perdurar, apesar de todo fim, toda morte.
Kah Dantas
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