O mundo não acaba com um estrondo, já sabemos por T.S. Eliot. Mas de que trama é feita esse gemido que às vezes é um final, a dissolução de algo, e às vezes é só um rumor, um ronronar interno que reverbera em cada esquina da mente e não nos deixa respirar?
Os contos, as vozes de Mariana Travacio transitam por esse limite estreito, cuja única escapatória parece se materializar nas duas caras da mesma moeda: a loucura e o esquecimento, últimas estações de uma viagem que com frequência apenas se inicia. A distância e estranheza dessas vozes as tornam perigosas; exageradamente controladas, se fundem, contudo, no exagero sem perceberem, como se retardassem algo que pode vir a resultar em uma fatalidade.
Talvez haja um traço que defina a escritura de Travacio como nenhum outro: esse traço é a angústia. E se essa angústia se volta onipresente para os seus personagens, não é porque eles distorcem a realidade, muito pelo contrário: é porque aninham em cada gesto, em cada movimento, o silencioso fluir do cotidiano.
José Maria Brindisi
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