María José Ferrada

María José Ferrada, nascida em 1977 no Chile, é jornalista e escritora. Seus livros infantis já foram publicados em diversos países. Kramp, seu primeiro romance, foi o primeiro trabalho a receber os três prestigiados prêmios literários chilenos: o Prêmio de Melhor Romance do Círculo de Críticos de Arte, o Prêmio de Melhores Obras do Ministério da Cultura (categoria romance) e o Prêmio Municipal de Literatura em Santiago.

  • O homem do outdoor

    O homem do outdoor é um livro sobre a violência em suas muitas formas. Narrado por Miguel, um menino de onze anos, conta a história de Ramón e das pessoas que o cercam, nos dois sentidos que o verbo pode ter: o de estar perto e o de encurralar, impondo limites. Ao decidir se mudar para um outdoor, Ramón, que já era considerado um sujeito estranho na vila onde vivia, atrai a atenção de todos os moradores do lugar, tornando-se objeto de vigilância, julgamentos e recriminações, em nome do que as pessoas consideravam, então, uma vida boa e correta.

    A decisão de Ramón traz à cena a dor e a fragilidade constituintes da vila, tanto as de ordem existencial, quanto as de natureza objetiva, em sua relação indissociável e sufocante. Abandono, pobreza, solidão, insegurança, medo e perdas se materializam em uma necessidade coletiva de controle sobre corpos e modos de vida, como tentativas de conter a miséria e a grandeza da experiência humana.

    São as muitas combinações desses elementos que fazem as personagens de María José Ferrada, desenhados pelo olhar estranhamente lúcido e sensível do pequeno Miguel. Aliás, a infância, seja como tema ou como voz, tem se mostrado um convite potente para saber quem somos e como vivemos, e também quem podemos ser e como podemos viver, na obra de Ferrada. Como Kramp, seu livro anterior, O homem do outdoor é uma leitura arrebatadora.

    Fabíola Farias

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  • Kramp

    Unidos por um catálogo de produtos de serralheria da marca Kramp e viagens num Renault velho por estradas, povoados e cidades, uma filha cresce ao lado de seu pai, caixeiro-viajante, a aprender ensinamentos sobre o mundo e vida. Da infância à adolescência, M narra seus aprendizados e o correr dos anos, até o evento que marca uma ruptura na família, acionando o dispositivo dos sintomas parentais e outras rupturas e mais questionamentos sobre o universo e as peças que não se encaixam, as dores desparafusadas que se acumulam, e o revelar das engrenagens discretas do afeto rangendo no crescer da sua maturidade.

    Nas viagens com o pai, D, e o consequente reacender da vida da mãe em casa, após um assombrar violento do passado, M percebe, ainda adolescente, que os mecanismos das Coisas no Mundo avançam com giros imprecisos, impossíveis para cálculos e categorias, e começa assim a aceitar perguntas inclassificáveis no maquinário das perdas e do tempo, em revelações de que infortúnios tidos improváveis podem transformar construções familiares sólidas em “um monte de palitos”.

    Ao voltar do livro, um dos caminhos mais difíceis e também confortáveis da viagem, vivenciamos com M o despertar para as precariedades de uma família a sofrer o desvanecimento de suas relações, e entendemos um dos mecanismos da existência (“um único parafuso pode precipitar o fim do mundo”) e que muito do que resta nesse sistema de sobrevivência até o futuro é estranho, mas também revelador.

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