Laís Ferreira - Editora Moinhos

Laís Ferreira

Nasceu em Belo Horizonte, em 1992. É graduanda em medicina na UNESP. Mestra em comunicação, com ênfase nos Estudos do Cinema e do Audiovisual, pela UFF (2018). Bacharela em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, pela UFMG (2016). É autora dos livros Ao norte, ao chão (Editora Moinhos, 2017), Canções do Porto e do Mar (Editora Multifoco, 2017), Caderno de Bolsa (Chiado Editora, 2015).

  • Válvula de ferro ou de carne

    O livro de Laís Oliveira é um corpo que vibra palavras, mergulhos e abismos. É também um coração que se abre e bombeia ar – não um ar totalmente puro – em tempos de fascismo, fome e “…o horror/ nas asas de um urubu”, mas um ar que só a poesia enfrenta.

    Por isso, as palavras que mais se repetem no livro são corpo e coração:  a anatomia do corpo presente nos versos converte-se em anatomia de linguagem, e o coração é a própria válvula de ferro ou de carne que sustenta o ritmo, o peso, a pressa, as entranhas da vida e do poema. Para a escritora María Zambrano “o coração é a víscera mais nobre porque leva consigo a imagem de um espaço, de um dentro obscuro secreto e misterioso que, em algumas ocasiões, se abre”. É este o movimento que se passa com a poética de Laís, lampejos misteriosos que de repente se encerram, mas que por instantes nos abrem e dilaceram como nos versos: “nenhum homem pode esmagar/ uma bactéria com os dedos, / ninguém nunca viu o corpo/ das palavras mortas de amor”.

    Encontrarás, leitor, neste livro, poemas de fôlego, com imagens primigênias que bailam entre a medicina, o cotidiano e as estrelas, e impressionam pela agudeza de escolhas de uma poeta que sabe manusear os dedos tanto para anatomizar corpos quanto para curá-los por meio de palavras e dos pensamentos que elas produzem.

    Daniel Veneri

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  • Ao norte, ao chão

    Os poemas de Ao norte, ao chão revelam uma trama em sentido ambivalente: ela se manifesta no verso, “esta linha/ em que não vamos ao fim/ para que se possa respirar/ e haja ainda o que seguir”, conforme “Percurso”, um dos pontos altos deste livro de Laís Ferreira; a trama também se faz presente na tendência à narratividade, que é contida, em ritmo cadenciado, às vezes alcançando um suave prosaísmo. De qualquer modo, sua poesia ressalta na oscilação de experiências em torno do amor, que se apresenta “como as redes, as iscas, as buscas/ próximas ao mar”. Outro sinal dessas buscas se torna evidente na recorrência com que cartas são evocadas e especuladas, funcionando como um símile da intensidade dos sentimentos.

    O amor também se mostra, indiretamente, no seu trabalho em relação às imagens, que se encadeiam, reproduzindo a dinâmica da rede. Em Ao norte, ao chão, as imagens se desdobram em outras, o que garante uma série de emoções a um mesmo símbolo, seja ele o “mar”, seja ele o “bolso” – duas constantes na poesia de Laís Ferreira.

    Contudo, o verso “é próximo ao chão/ embora se escalone ao céu”, sugerindo uma poética de contrastes. Eles estão presentes em referências a patologias contemporâneas e à perspectiva trágica de certos poemas, como “Os sem nomes do amor”: “É triste, mas não somos a terra:/ não retemos poeira, grão e cal./ O que cai em nós não germina,/ não há morte precursora da vida.// No entanto, sob as unhas descansam/ um verso por quem se foi, a esperança.” É uma obra que, nos contrastes, desvela que tudo está tão próximo e tão distante.

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    ao norte ao chão
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