Kah Dantas

Kah Dantas é cearense, mestra em literatura comparada, servidora pública na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e autora dos livros Orgasmo Santo (2020), Inhamuns (2021), águas abundantes de um planeta recém-nascido (2022) e Boca de Cachorro Louco, em uma nova edição pela editora Moinhos.

  • Boca de cachorro louco

    Quantas mulheres já não ouviram frases como “Homem é assim mesmo.”, “Se ainda tá com ele é porque gosta de apanhar.” ou “Deixa de ser doida, o cara é gente boa.”, ditas por homens ou por outras mulheres? A culpa de um relacionamento tóxico é jogada em seus ombros desde que o mundo é mundo. São poucas aquelas que reconhecem o prejuízo sofrido com a violência, menos ainda as que têm coragem de falar sobre isso. Kah Dantas é das corajosas!

    Boca de cachorro louco é essa coragem tornada romance que expõe a realidade de mulheres que se entregam ao exercer o direito (e o desejo!) de amar, mas se veem enredadas pela lábia de um ser maligno, que suga suas forças ao ponto de fazê-las questionar se não seria exagero reivindicar até o amor-próprio.

    A franqueza no texto da Kah – que poetisa sem romantizar – explicita o motivo de as mulheres acolherem a culpa e demorarem a perceber que esta não lhes cabe. De “piadas” machistas a agressões verbais e físicas, o sistema patriarcal se impõe às vidas e corpos femininos na tentativa de reduzi-los a nada. Mas ainda há saída e este livro vem como inspiração para quem viveu ou vive uma relação abusiva.

    Ao mesclar erótico e religioso, Boca de cachorro louco é um desabafo e um exorcismo de demônios que querem possuir o que não é seu. Corpo e alma da mulher são sagrados; merecem prazer, merecem amar; merecem viver.

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  • águas abundantes de um planeta recém-nascido

    este é um livro-cântico.

    dizem os antigos que a palavra é o instrumento primeiro da comunhão entre devotos e deusas.

    em águas abundantes de um planeta recém-nascido, Kah Dantas é devota do verbo, navega pela linguagem e se apropria das metáforas religiosas para compor um corpo-instrumento que nos leva a devorar a palavra:

    E eu disse ao meu amado “vou”
    Como o maná atravessando as nuvens
    E pousando no abrigo da boca faminta
    E da língua prometida e sedenta
    Para fazer cumprir esta palavra de amor

    Kah Dantas escreve com a elegância de quem conhece o ofício. não há desvio do caminho porque é na liberdade que ele se faz.

    este livro é a cartografia de um corpo que escolhe o outro. que ao se declarar para o outro fala de si mesmo, de suas fraquezas, desejos, medos e dores. nele, encontramos verdade e doçura; desejo e desvario; culpa e redenção.

    se é pela palavra que nos aproximamos das deusas antigas, nos versos de Kah Dantas conhecemos o fruto da comunhão.

    que a palavra seja sempre salvação.

    Dia Nobre
    Petrolina, 10 de março de 2022

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  • Inhamuns

    Uma jornalista residente em Porto Alegre é convocada a viajar a trabalho à sua terra natal, lar às avessas, de onde ela partira fugitiva e estranha, evitando desde então qualquer ideia de regresso. Inhamuns é essa terra, irmã do diabo, que pulsa erotismo e violências tantas, atravessando o corpo de mulher da narradora a lançar olhares indecentes sobre o próprio passado, numa arqueologia de memórias adormecidas que revive traumas e produz tragédias. Tal retorno inesperado às reentrâncias do sertão cearense, território de lembranças evitadas, rende reencontros de prazeres e infortúnios, frutos sertanejos de polpa agridoce encharcada de mistérios e segredos criadores.

    Kah Dantas escreve como quem nasceu para isso e nos guia por Inhamuns com segurança e desejo, tomando como rédea da narrativa uma linguagem sensual e elegante a nos seduzir pela precisão saborosa das descrições, tanto da natureza sertaneja ao redor quanto do interior umedecido de sua protagonista, cuja história faz ressoar por todos os cantos que é impossível escapar do destino que o sertão reserva a seus filhos e filhas.

    Tamy Ghannam

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