Gabriela Cabezón Cámara

Gabriela Cabezón Cámara (Buenos Aires, 1968) trabalhou em jornalismo e edição, publicou vários romances, incluindo La virgen cabeza (2009), pré-selecionada para o Prêmio Memorial Silverio Cañada e Livro da Rolling Stone Argentina de 2009. Em 2013, foi escritora residente na UC Berkeley. É também uma das fundadoras do NiUnaMenos, um movimento contra o feminicídio e violência de gênero. Las aventuras de la China Iron foi publicado em 2017 na Argentina, em 2019 na Espanha, e em 2020 na Escócia, e chegou à final do International Booker Prize 2020. No Brasil, As aventuras da China Iron foi publicado em 2021 pela editora Moinhos, que agora também publica Nossa Senhora do Barraco (La virgen cabeza).

  • Nossa Senhora do Barraco

    Nossa Senhora do Barraco, de Gabriela Cabezón Cámara, é uma narrativa cheia de inventividade e com múltiplas camadas de interpretação. Cleópatra, uma travesti, depois de sofrer uma atrocidade enquanto estava presa, acaba por ter uma revelação mística: a Virgem Maria surge para conversar com ela. Decide, então, que não irá mais se prostituir e começará a cuidar do seu povo.

    Quando Cleópatra adquire um novo status, quase o de uma santa milagreira, passa a ser respeitada e conhecida por suas ações, que começam a ecoar e a chamar a atenção. Qüity, uma jornalista da imprensa sensacionalista que busca retratar histórias marginalizadas, fica a par de tudo que está por trás da figura de Cléopatra e resolve entender um pouco mais sobre esse “fenômeno”, envolvendo-se cada vez mais com a vida cotidiana da favela e com a própria travesti.

    Gabriela Cabezón Cámara se utiliza da dor, do humor, do choro e das drogas para mostrar como a nossa humanidade, até quando ao lado de Nossa Senhora, de nada vale frente a um contingente policial que nos criva de balas. Nossa Senhora do Barraco é uma narrativa que não conta apenas a vida de pessoas consideradas à margem da sociedade: ela evidencia toda a brutalidade sofrida pelo povo de El Poso, uma violência que se estende a todas as periferias do mundo.

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  • As aventuras da China Iron

    “Foi o brilho”, assim começa As aventuras da China Iron. A história conta o renascer de Iron, mulher mestiça que escapa do marido acompanhada da cadela Estreya. Elas encontram Liz, uma inglesa com quem cruzarão a pampa argentina rumo ao delta do rio Paraná. Tudo nesta narrativa é intensificado sob a luz pampeana: cores, saberes-sabores, o amor lésbio, a linguagem prismática e a comunicação interespécies.

    A paródia do Martín Fierro, livro fundador da literatura argentina, alcança aqui seu princípio modernizador: uma relação dialética faz do modelo um antimodelo ao criar sentidos textuais novos e muito além da imitação.

    É algo único o estilo de Gabriela Cabezón Cámara. Mas acaba por filiá-la a uma particularíssima família de refundadores do espanhol rio-platense: Una excursión a los indios Ranqueles, de Mansilla; Zama, de Antonio di Benedetto; Gualeguay, de Juan L. Ortiz; Eisejuaz, de Sara Gallardo; El entenado, de Saer.

    Poucas vezes um livro inadiável recebeu de seus contemporâneos o reconhecimento imediato por parte de críticos e público. As aventuras da China Iron é um desses casos excepcionais. Causou furor na Argentina entre 2017, 2018 e 2019. Em 2020 esteve entre os finalistas do International Booker Prize. Por sorte, podemos recebê-lo agora no Brasil, não muito distante do ano de seu lançamento original.

    E se no princípio “foi o brilho” caberá dizer que o primeiro do resplendor nem sempre é a cegueira. As aventuras da China Iron é um livro luminoso nas mãos de quem o percorre. Uma aventura inesquecível, escrita em ritmo cinematográfico que nos leva a reter imagens na memória.

    Davis Diniz
    São Paulo, maio de 2021

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