Ler Mika Andrade é um convite às eróticas vividas e a se aventurar pelas ainda não vividas. Ali, se encontram, na memória do corpo. Como se ao lê-las, o leitor se deparasse com a poeta em seus atos de amor, tesão e uma escrita que fala sobre esse desejo de escrever.
Não é à toa que a poeta insiste: “de novo/ o poema preso/ – intacto –/ na garganta”. Nos entre mundos de meias-riscas e repetições. O poema, ali, situado no ápice de sua externalização para o mundo, como quem ensaia. Seu nascimento. E vocalização, posto que, quem nasce, gera som no mundo.
Voz. Pois chora, e se chora é porque demanda algo.
Começando a demandar quem os ouça e os beba, aplacando uma sede e gerando outras. Pois se o poema gera sede ao gerar a si mesmo, a leitura também o faz. E esses poemas têm sede de serem ouvidos e lidos em seus ‘v’ e ‘m.’.
Deixando uma sugestão àquele convite, pois a poeta busca em suas geografias a fuga das catalogações – “do desejo”, “do corpo”, “da existência”.
Então, quem tiver de vir, que venha. Mas ciente de seu pleno direito ao gozo e à escrita. E não se prenda nas geografias das palavras e, sim, dê as mãos a elas. Lambendo, assim, “a palavra/ até que se faça líquida/ feito gozo”.
Rafaela Miranda
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