Roque Larraquy

Roque Larraquy (Buenos Aires, 1975) é um escritor e roteirista argentino. É autor, entre outros textos, dos romances La comemadre (2011), publicado pela Moinhos como Comemadre e traduzido para o inglês, alemão, francês, italiano, turco, russo, grego e persa, indicados ao USA National Book Awards e ao  Best Translated Book Award em 2018; Informe sobre ectoplasma animal (2014), livro ilustrado do artista visual Diego Ontivero, traduzido para o inglês e italiano, e La telepatía nacional (2020), escolhido entre os dez melhores livros em espanhol de 2020 pelo The New York Times. Até 2022, foi diretor do Bacharelado em Letras da Universidade Nacional de Letras, o primeiro diploma universitário da Argentina dedicado à escrita artística.

  • A telepatia nacional

    O insólito literário é a chave de leitura que consegue dar conta dos absurdos da história recente humana, perpetrados pelos processos de colonização europeus. E Roque Larraquy tece com maestria seu insólito, adicionando temas caros à ficção científica nesta crítica a facetas argentinas que esse país desejaria esquecer.

    A telepatia nacional, como nas melhores histórias da literatura fantástica, insere nomes reais em uma trama ficcional complexa. Inicia com o sequestro de índios da Amazônia peruana em 1930, que são levados, através do Brasil, a Buenos Aires. O objetivo? Replicar em solo portenho o projeto asqueroso europeu que gerou lucros imensos no séc. XIX: um zoológico humano.

    Contudo, se esse enredo parece focar no passado, não se engane! Larraquy se vale de tais acontecimentos com o intuito de minar nossas certezas sobre a diferença entre o real e o imaginado, a memória e o delírio e, por fim, o que se é e o que se pode ser.

    Somente o contato com o Outro pode fazer o indivíduo escapar, mesmo que um pouco, de si mesmo. Não creio que nascer e crescer em algum lugar imponha a condenação de uma única visão do mundo, nem que a terra ou a cartografia do Estado sejam a prisão de uma identidade, lemos em certo ponto do livro.

    A ficção científica se consolidou nos temas dos contatos e das identidades e este romance é a prova de que Larraquy sabe usá-los de forma habilidosa.

    Rafael Ottati

    Adicionar ao carrinho
  • Comemadre

    Disseminada pelo mundo naquele início de século XX e fundamental para o sucesso de ideias que resultaram em capítulos que estão entre os mais vergonhosos de nossa história, o relincho de que alguns seres humanos são superiores a outros está no centro do que se passa num sanatório a poucos quilômetros de Buenos Aires. Se homens de boa formação desejam sanar suas dúvidas científicas, qual é o problema de guilhotinar cabeças daqueles que julgam não ter o mesmo direito à vida?

    Há muitos pontos que podemos discutir a partir deste romance de Roque Larraquy. A eugenia é um dos aspectos mais evidentes, porém traços como o patriotismo que cega e serve de pretexto para atrocidades e o preconceito aos negros e indígenas, perseguidos não só na Argentina, mas por todos os cantos da América Latina, também estão presentes. Num corte temporal inesperado, o debate sobre os limites éticos da arte se apresenta.

    Comemadre tem traços caros ao que há de melhor na literatura argentina contemporânea: o horror, o absurdo, o bizarro, os toques de um humor nada óbvio… E, claro, a acidez, a capacidade de incomodar. “A classe média salva a Argentina. Seu triunfo será no mundo todo”, lemos em uma das epígrafes. O sarcasmo é outra virtude a ser enaltecida.

    Rodrigo Casarin

    Adicionar ao carrinho
    comemadre