Publicação

Jokha Alharthi e “Damas da lua”

13 de junho de 2020

Quem é Jokha Alharthi?

De forma muito resumida, podemos dizer que ela foi a primeira pessoa do Golfo Pérsico a ganhar o Man Booker International Prize com sua obra “Damas da Lua” (“Celestial Bodies” na tradução para o inglês). Mas além disso, ela é a primeira escritora do Omã a ser traduzida para o inglês e para o português. Aqui no Brasil, a tradução ficou a cargo da premiada tradutora Safa Jubran, que recebeu, em 2019, o Prêmio Sheikh Hamad de Tradução e Entendimento Internacional, pelo trabalho que ela realiza vertendo obras do árabe para o português do Brasil, assim como a sua participação em outras ações em prol da divulgação dos países árabes.

Jokha Alharthi e a tradutora para o inglês Marilyn Booth. Foto: Andy Rain/EPA
(The Guardian)

Jokha Alharthi nasceu em 1948, no Omã, e concluiu seu doutorado em Poesia Clássica Árabe, em Edimburgo. Atualmente ela leciona na Universidade Sultan Qaboos, em Mascate, e possui dez obras publicadas, incluindo três livros de contos, dois livros infantis e três romances em árabe. “Damas da Lua” foi selecionado para o prêmio Sahikh Zayed para jovens escritores e seu romance de 2016, “Narinjah”, ganhou o prêmio Sultan Qaboos de cultura, arte e literatura. Dizem as más línguas que num futuro pós-pandemia essa obra irá pousar por estas paragens. Assim esperamos!

 Alharthi vive em Mascate com seu marido e três filhos. Foto: Alamy (The Guardian)

“Damas da Lua” foi classificado pelo júri do Man Booker Prize como “sutil”, “lírico” e “profundo”. Além disso, diversos jornais internacionais, como New York Times, The Guardian e até a Time, falam sobre a obra, que se passa na vila de al-Awafi, em Omã, onde moram três irmãs. Mayya, a mais velha é a primeira a deixar a casa, se casando com Abdallah – personagem importantíssimo para a narrativa – depois de ter seu coração partido. Assmá, a irmã do meio se casa por um senso de dever. Khawla, a caçula, e para muitos a mais bela, rejeita todas as ofertas enquanto espera por seu amado, que emigrou para o Canadá. O livro que é elegantemente estruturado é sobre a história e as pessoas do Omã moderno contadas através das perdas e amores de uma família. É um livro que conta diversas histórias, possui muitos personagens densos e que emociona com relatos que dizem muito sobre a cultura omanita, sobre o lugar da mulher a solidão que podemos ter dentro de cada um de nós.

Ainda sobre “Damas da lua”, que teve sua primeira edição em 2010, a própria autora diz que é um de “livro de sorte”. Ao The Guardian, ela afirmou que “os livros são como pessoas, alguns têm vidas de sorte, e este livro recebeu muita atenção”. Entre a crítica internacional, o livro ganhou diversos elogios, uma tese de mestrado já foi escrita sobre o assunto e, em 2019, um estudo crítico. Na entrevista que deu ao The Guardian, ela ainda fala sobre um tema que é difícil para o seu povo colocar em discussão, a escravidão, que para os omanitas é algo que ficou no passado, mas que tem espaço dentro dessa narrativa de Alharthi.

Alharthi, ainda na entrevista, quando perguntada como se sentia vendo o livro ganhar novas traduções e, consequentemente, novos leitores e leitoras, ela responde que é estranho, mas que “É maravilhoso ter um número maior de leitores, e ter leitores em todos os lugares”, mas também afirma que é um sentimento estranho porque são personagens que saíram de si e que agora ganham vida no imaginário de outras pessoas. Alharthi ainda fala sobre a relação que pessoas não-árabes podem ter com a obra, ela diz que por existir muito da cultura de Omã, leitores omanistas facilmente se sentem refletidos em seus personagens, o que não acontecerá com pessoas de outras culturas.

No entanto, Alharthi chama atenção para a sequinte questão: “Mas ainda acho que o que nos atrai para a literatura não é aquilo que é familiar, mas sim aquilo com que podemos nos relacionar enquanto algo de valor universal nela”. E, assim como Jokha Alharthi espera que os leitores internacionais possam se relacionar com os valores universais inseridos em “Damas da lua”, nós, da Moinhos, esperamos que você que lê esse texto e que, talvez, venha a conhecer essa obra, possa ter uma das melhores experiências de leitura. A Moinhos está mais do que feliz de ter essa obra em seu catálogo, que você pode adquirir em nossa livraria online ou nas melhores livrarias do Brasil.

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