Victor Toscano

Victor Toscano nasceu no Recife. Estudou psicologia e jornalismo. Teve uma curta carreira de músico, na qual lançou três discos online, participou de coletâneas e fez apresentações em sua cidade natal. Hoje, concentra seus esforços artísticos na literatura, além de atuar como professor de línguas e tradutor. Tem textos publicados em revistas literárias e sites como Jornalirismo e Observatório da Imprensa. Participou da coletânea de contos Não pretendia criar discórdia (2017).

  • O último minuto custa a chegar, mas é maravilhoso

    O livro do Victor impacta por diversos motivos. Tudo começa pelo fato de ficar nítido que tal impacto não se tratou de uma vontade racional do autor, mas de um impacto que as personagens lhe apresentaram no decorrer das suas histórias. É assim porque é. Tem dor porque tem. Tem beleza porque tem. E mais, o que considero um ganho enorme no livro, tem a estranheza, por vezes incômoda (necessária para uma literatura de real transformação interior), que uma crueldade não destituída de delicadeza, que um amor não destituído de demência, gera no leitor. Trata-se de uma espécie nova de ternura irônica, que atravessa de forma subjacente todos os contos. Numa instância perfeita para tal: o ambiente familiar. Com um lugar reservado especialmente para o pai e o filho, e mais, muito mais, o pai e a filha, o pai que deseja ter uma filha, caso contrário se abstém de tal função, função esta colocada como salvação. Por quê? Nunca fica claro, ainda bem! Este é outro ganho enorme no livro do Victor: os contos dão margens para suposições, jamais certezas. “Ele, por sua vez, não insistiu; a filha já não debatia como antes. Subiu ao escritório, onde masturbou-se e leu até dormir.”

    Outro ponto alto da literatura do Victor é o nível surreal que alguns contos alcançam. Não apenas surreal, mas cômico, ou melhor, tragicômico. Que pega o leitor desprevenido, que provoca aquele riso descontrolado da desgraça. Eu poderia citar muitos trechos nesta orelha, mas não quero adiantar demais. Aqui só aponto o trecho marcante da menina acariciando uma baleia morta na praia, enquanto outras crianças atiram-lhe pedras. É simplesmente inusitado. É simplesmente sensacional.

    Têm também as imagens poéticas e reflexões filosóficas ótimas que permeiam os contos de forma harmônica. Dando-lhes beleza e densidade: “Já, já, eu explico como faz para nadar entre as estrelas.”; “Menor, rezava para que as outras pessoas não o destruíssem. Hoje, reza pelo mesmo motivo, incluindo-se no vasto grupo dos algozes.”

    E o que mais? Sim, ainda tem mais. Têm experimentações formais interessantíssimas. Como nas narrativas que alternam presentificação com memória. Têm também nomes, características e símbolos, que surgem inesperadamente em mais de um conto (sobretudo no que dá nome ao livro). Quase costurando as histórias. E este “quase” também é outro ganho. Têm diálogos que soam honestos, que dão a sensação de estarmos escutando realmente as vozes das personagens. Como no diálogo do último conto, entre Ele e Ela, que descamba para o episódio do passarinho, que termina de nos calar.

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