Humberto Ballesteros

Humberto Ballesteros (Bogotá, 1979) é um novelista e contista colombiano. Entre seus livros estão Razones para destruir una ciudad (Premio de Novela Ciudad de Bogotá), Juego de memoria (Finalista del Premio Biblioteca de Narrativa Colombiana), Diario de a bordo de un niño astronauta e Caderno de Entomologia, agora publicado pela Moinhos. É professor de italiano e Espanhol no Instituto Superior Hostos da Universidade da Cidade de Nova Iorque.

  • Caderno de entomologia

    A entomologia é o ramo da zoologia que se dedica ao estudo dos insetos e bichinhos como aranhas, escorpiões e piolhos de cobra (mesmo não sendo insetos). Tem diversas aplicações, incluindo a investigação de crimes. A presença ou ausência dos insetos podem indicar desde um ambiente equilibrado e saudável até o tempo de decomposição dos corpos. Bichos que podem causar pavor, como baratas, aranhas, escorpiões, ou trazerem encanto e fascínio, como joaninhas e abelhas. Em alguma medida, somos parecidos. Não fabricamos mel como as abelhas, mas nos organizamos numa sociedade de operárias e rainhas; não somos peçonhentos como um escorpião ou uma aranha, mas detemos igual letalidade; não somos tão encantadores como um vaga-lume ou joaninha, mas somos capazes de ser ternos, amáveis, charmosos. E se visto de perto, bem de perto, veremos que o encantador também pode ser peçonhento e o letal pode revelar equilíbrio e leveza.

    Essas contradições forjam os dez contos desse Caderno de Entomologia, do colombiano Humberto Ballesteros. Cada um deles remete a um desses pequenos invertebrados estudados pela Entomologia, corporificando nossas idiossincrasias. Uma libélula pairado sobre as águas da ambição, uma mariposa antecedendo a mudança, um vaga-lume e a luminescência do deslocamento, um louva-deus prestes a decepar a cabeça de seu inimigo, uma borboleta perseguida com obstinação, um escorpião revelando a malignidade e vulnerabilidade de sua própria natureza, a efervescência da colmeia como meio para a omissão da verdade, a difícil relação entre pai e filha nas asas de uma joaninha, uma larva como símbolo entre o começo e o fim, e uma barata assombrando os sonhos de uma poeta em sua clausura.

    Brotam, rondam e escondem-se em frestas, em gretas abertas pela dor, perda, ausências, morte e vida. Confundem-se, ora em metamorfoses (como em Kafka), ora em confusão e delírio (como em Orwell), e nesse trânsito Ballesteros constrói com introspecção, delicadeza e desconcertante beleza um retrato de quem somos, que, em alguns momentos, é assustador e noutros, simplesmente libertador. E mesmo minúsculos podem causar uma devastação completa, o que pode indicar tanto uma fatalidade quanto o destino natural de todas as criaturas invertebradas ou não.

    Texto de orelha escrito por Ivandro Menezes

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